domingo, abril 16, 2006 

Escola EB2,3/S de Ourique


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sábado, abril 15, 2006 

Afonso de Albuquerque


Afonso de Albuquerque nasceu em Alhandra no ano de 1453 e faleceu a 16-12-1515 em Goa.


Filho segundo do terceiro senhor de Vila Verde (dos Francos), Gonçalo de Albuquerque.

Fidalgo de linhagem, podia pois, com verdade, escrever a D. Manuel que seus avós lhe haviam deixado «bons costados e boa liança».


Segundo Governador da Índia, neto e bisneto dos escrivães da puridade de D. João I e de D. Duarte.


Foi um brilhante militar e político sendo considerado como o maior governador da Índia.

Era dotado de uma energia indomável, tendo um espírito aberto às mais avançadas concepções. De família aristocrática, foi educado na corte de D. Afonso V, onde estudou matemática e se familiarizou com os clássicos.

Acompanhou o futuro D. João II na campanha de Castela (1476), serviu em Arzila e Larache (1489) e em 1490 fez parte da guarda de D. João II. Serviu de novo em Arzila (1495), voltando depois a integrar-se na guarda real.

Enviado à Índia em 1503 com o seu primo Francisco de Albuquerque, tendo cada um o comando de três naus, venceu as forças de Calicut, ergueu a fortaleza de Cochim e estabeleceu relações comerciais com Coulão, tendo regressado experiente e sonhador em 1504.

Expôs a D. Manuel o seu sonho imperial, alicerçado na conquista das posições estratégicas do Índico, tendo convencido o monarca e os membros do seu conselho.


Para o executar partiu para Oriente em 1506, como capitão-mor do mar da Arábia e com a provisão (secreta) que lhe confiava, a partir de 1508, o governo de toda a Índia.


Conquistou os portos de Omã e fez tributária de Portugal a riquíssima cidade de Ormuz (1507), que era um local que dava para controlar quem entrava e quem saia do Golfo Pérsico, e também assim os portugueses começavam a ser os intermediários do comércio entre a Pérsia e o Oriente.

Apoderou-se de Goa(1510) com o objectivo de controlar todo o comércio da costa indiana, e Malaca(1511), abrindo aos portugueses o acesso às especiarias das Molucas e ao comércio com a
China,tendo sido, em 1513, o primeiro capitão europeu a sulcar o Mar Vermelho no importante ponto de Adém, que foi dominado durante vário tempo pelos portugueses, Adém era importante por ser a entrada do para o Mar Vermelho, o que permitia aos portugueses controlar o também o comércio deste.

Desenvolveu intensa actividade administrativa e diplomática para consolidar a soberania portuguesa.

Concluída a Fortaleza de Ormuz (1515), viu completada a cadeia de pontos capitais para assegurar o monopólio maritimo-comercial dos produtos da Índia.


Veio a falecer à vista de Goa, em 16 de Dezembro de 1515, não sem saber que na cidade o aguardava para lhe suceder um dos seus mais acérrimos inimigos pessoais: Lopo Soares de Albergaria enviado pelo rei D. Manuel I. Profundamente ofendido e desgostoso, Afonso de Albuquerque deu graças a Nosso Senhor terá dito:

«Mal com os homens por amor a el-rei com el-rei por amor-dos-homens, bom é acabar».

Os seus padecimentos haviam-se agravado, e sentindo-se morrer ditou para D. Manuel a seguinte carta:

«Senhor: quando esta escrevo a Vossa Alteza estou com um soluço que é sinal de morte. Nesses reinos tenho um filho e peço a Vossa Alteza que mo faça grande, como meus serviços merecem que tenho feito com minha serviçal condição; porque a ele mando, sob pena de minha bênção, que vo-lo requeira. E quanto às coisas da Índia não digo nada, porque elas falarão por si e por mim».

Marinheiro e soldado, estratego escritor (primorosas as suas Cartas para o rei), estadista e diplomata, foi talvez o maior vulto de toda a história ultramarina portuguesa, a ele se ficando a dever as bases sobre as quais se manteve durante séculos o Império Português do Oriente.


Brás de Albuquerque


Afonso de Albuquerque teve um filho que nasceu na Quinta do Paraíso, em Alhandra, em 1500, e no baptismo recebeu o nome de Brás de Alburquerque, que o Rei D. Manuel I insinuou mudasse para Afonso, a fim de perpetuar a memória de seu Pai.

Capitaneou um dos navios da Armada que conduziu a infanta D. Beatriz, que ia desposar o duque de Sabóia.

D. João III, nomeou-o Vedor da sua fazenda, cargo em que mostrou a sua diligência e grandes provas de capacidade, em 1569, quando era presidente do Senado de Lisboa, procurando por todos os meios evitar os estragos verdadeiramente calamitosos que então causava a peste na Capital.

Comprou aos Marqueses de Vila Real uma quinta que tinham em Azeitão, e transformou-a em sumptuosa vivenda, ainda hoje existente, a tão celebrada Quinta da Bacalhoa.

Escreveu os «Comentários de Afonso de Albuquerque», redigindo-os, segundo declara, pelas cartas ou ofícios que seu pai enviara ao Rei.


É obra de grande valor e constitui um dos mais preciosos documentos de acção dos portugueses no Oriente, especialmente dos feitos do grande Afonso de Albuquerque.

Escreveu ainda «Tratado da antiguidade. Nobreza e descendência da família dos Albuquerques», que ficou manuscrita.

Foi provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (6 vezes) e President
e do Senado da Câmara de Lisboa (1572), e foi também o fundador da Casa dos Bicos mandada construir em 1523, casa que era destinada à habitação.

Em 1981, foi restaurada segundo o desenho primitivo para albergar um dos núcleos da XVII Exposição Europeia de Arte, Ciência e Cultura.

A sua decoração, os "bicos", demonstra uma clara influência italianizante, provavelmente do Palácio dos Diamantes em Ferrara, ou do Palácio Bevilacqua em Bolonha.

Acolheu a Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses até à sua extinção.

Brás de Albuquerque morreu em Lisboa em 1580.

sexta-feira, abril 14, 2006 

O Congo

Quando Diogo Cão chegou à foz do rio Zaire em Abril de 1483 e contactou pela primeira vez o mani Nsoyo, chefe da localidade na qual aportara, o Congo era um reino forte e estruturado, cuja chefia máxima cabia ao Mani Congo.

Formado por grupos de etnia banto, especialmente os bakongo, abrangia grande extensão da África Centro-Ocidental e compunha-se de seis estados, que os portugueses denominavam províncias.

Mpemba, onde ficava encravado o território do Congo propriamente dito, com a capital em Mbanza Congo, a São Salvador cristã, onde residia o rei;NSoyo (Sonyo) ou Sonho na tradução portuguesa da época, situada a norte de Mbamba, banhada pelo oceano Atlântico e pelo Zaire. Nesta ficava o porto de Mpinda, onde desembarcaram os portugueses.

Todos os estados eram governados por parentes do rei do Congo, com excepção da província de Mbata, que gozava do privilégio de ter um descendente dos antigos senhores da terra, impondo-se-lhe, porém, a obrigação de casar a filha mais velha na casa real do Congo.O estado de Nsundi era, por tradição, governado pelo herdeiro do rei do Congo.

O rei do Congo considerava ainda vassalos, ou, pelo menos, amigos, alguns reinos situados na margem direita do Zaire, como o de Ngoio ou Angoy, o de Cacongo, estendendo-se a sua influência até ao reino de Luango (actual Congo Brazzaville)

Para o interior destes, e confrontando com o estado de Nsundi, ficava a Anzicana, povoada por povos antropófagos e que ora se comportavam como amigos, ora como inimigos do Congo.

A fronteira sul que confrontava com os Ambundos, também sofria oscilações.Algumas delas, como as de Nsoyo, Mbata, Wandu e Nkusu, eram administradas por membros de uma nobreza local que assumiam os cargos de chefia há gerações, sendo o controle político mantido por uma mesma linhagem, enraizada no local.

Outras províncias eram administradas por chefes escolhidos pelo rei dentre a nobreza que o cercava na capital.A unidade do reino era mantida a partir do controle exercido pelo Mani Congo, cercado por linhagens nobres que teciam alianças principalmente por meio do casamento, mas era também fortalecida pelas relações comerciais e políticas entre as diversas regiões

.O centro de poder localizava-se na capital, Mbanza Kongo, de onde o rei administrava a confederação juntamente com um grupo de nobres que formavam o conselho real, composto provavelmente por 12 membros, divididos em grupos com diferentes atribuições: secretários reais, colectores de impostos, oficiais militares, juízes e empregados pessoais.

A centralização político-administrativa, ao mesmo tempo que conferia estabilidade ao sistema, ensejava intensas e frequentes disputas pelo poder.A formação do reino parece datar do final do século XIV, a partir da expansão de um núcleo localizado a noroeste de Mbanza Kongo.Os mitos de origem registados no século XVII referem-se à conquista do território por um grupo de estrangeiros, chefiados por Nimi a Lukeni, que teria subjugado as aldeias da região do Congo e imposto a sua soberania pela supremacia guerreira.

Nos séculos XVI e XVII, após o contacto com os portugueses, o direito do rei colectar impostos e tributos estaria ideologicamente fundamentado na conquista efectivada pelos antepassados das linhagens governantes, o que nem sempre era aceite pacificamente.

A divisão fundamental na sociedade congolesa era entre as cidades - mbanzae as comunidades de aldeia - lubata. A tradição representava esta divisão como entre povos que vieram de fora e os nativos, submetidos àqueles.

Os estrangeiros seriam os membros da nobreza, os habitantes da capital, os governantes das províncias indicados pelo rei, isto é, os que ocupavam as posições superiores do reino. A lubata era dominada pela mbanza, que podia requisitar parte do excedente aldeão.

Os chefes de aldeia - nkuluntu - faziam a ligação entre os sectores, recebendo o excedente agrícola e repassando parte deste para os representantes das cidades, reconhecidos como superiores políticos.

Nas comunidades rurais, a apropriação do excedente era justificada pelo poder de mediação com o sobrenatural do kitomi, ou pelo privilégio do mais velho, o nkuluntu.Como nelas a produção supria apenas as necessidades básicas, não havia um acumular de bens que permitisse sinais exteriores de status para os chefes.

Enquanto nas aldeias os chefes não tinham controle sobre a produção, baseada na estrutura familiar e na divisão sexual do trabalho, nas cidades eram os nobres - as linhagens governantes - que controlavam a produção, fruto do trabalho escravo no cultivo de terras controladas pela nobreza.

As diferenças básicas que distinguiam as cidades das aldeias eram a maior concentração da população e a administração da produção por parte da nobreza, que se apropriava de parte do trabalho escravo.

No reino do Congo havia, de um lado, a escravidão doméstica ou de linhagem, na qual o cativeiro era resultante de sanções sociais ou mesmo da captura em guerras, integrando-se o escravo à linhagem do senhor.Cativeiro em que se destacavam as escravas concubinas, que geravam filhos para o clã masculino, ao contrário dos casamentos entre linhagens, nos quais os filhos ficavam ligados à família da mãe.Mas ao lado da escravidão de linhagem, mais amena e mitigada, existia a escravidão ampliada ou escravismo propriamente dito: um tipo de escravidão comercial ligada à produção agrícola ou à exploração de minas, a qual seria consideravelmente estimulada e desviada para o Atlântico após o contacto com os portugueses.

São Salvador, nome atribuído a Mbanza Kongo após a conversão dos reis congoleses ao cristianismo em 1491, chegou a ter cerca de 60.000 habitantes no século XVII, sendo que de 9 a 12.000 desses não estavam directamente engajados na produção.

Desde antes do contacto com os portugueses, até meados do século XVII, a capital foi um imã que unia as diferentes linhagens nobres, e a base da solidez do Congo, pois mesmo quando eram travadas lutas sucessórias entre as chefias, tudo se resolvia em função da centralização política em São Salvador, antiga mbanza Congo.

As diferentes linhagens sempre preferiam aderir ao grupo que no momento dominasse a política da capital, a tentar a separação.

Quando os portugueses chegaram ao Congo, encontraram ali grandes mercados regionais, nos quais produtos específicos a certas áreas como sal, metais, tecidos e derivados de animais eram trocados por outros, e um sistema monetário, no qual conchas chamadas nzimbu, colectadas na região da ilha de Luanda, serviam de unidade básica.


O
estreitamento das relações com os portugueses intensificou o comércio regional e o internacional e aumentou a importância dos comerciantes, muitos deles não congoleses.

O Congo não era uma nação voltada para o comércio, exercido em grande parte pelos naturais de Loango, e posteriormente controlado pelos portugueses de São Tomé e de Angola e pelos holandeses.Mas eram o comércio, principalmente de escravos, e o controle das minas, sempre aquém das expectativas, os principais interesses dos portugueses no Congo quando ali chegou Diogo Cão.

Instruídos para estabelecer contactos pacíficos e acompanhados de intérpretes conhecedores de línguas africanas, os enviados do rei português tomaram conhecimento da cidade real no interior do continente e para lá enviaram emissários.

Como estes demorassem a voltar, retidos na corte congolesa pela curiosidade que despertou o que contavam, os navios portugueses, recusando-se a esperar, zarparam sem eles, levando alguns reféns.

Em Portugal esses foram tratados como amigos e aprenderam um pouco dos hábitos, da religião e da língua do reino.Conforme o prometido, nova expedição trouxe de volta os congoleses capturados, agora "ladinos", juntamente com uma embaixada e presentes para o mani Congo, retorno amplamente festejado.

Disposto a abraçar a fé de Cristo, o mani Congo enviou, em 1488, uma
embaixada para o rei português, que foi presenteado com tecidos de palmeiras e objectos de marfim, formalizando seu desejo de se converter ao cristianismo e pedindo o envio de clérigos, assim como de artesãos, mestres de pedraria e carpintaria, trabalhadores da terra, burros e pastores.

Junto com os pedidos, deixou claro o seu desejo de que doravante os dois reinos se igualassem nos costumes e na maneira de viver, solicitando que alguns jovens, enviados com a embaixada, fossem instruídos na fala, escrita e leitura latinas, além dos mandamentos da fé católica.E, com efeito, durante todo ano de 1489 e1490 os enviados do rei do Congo permaneceram em Portugal, aprendendo o português, os mandamentos da fé católica e os costumes da sociedade portuguesa.

Em 19 de Dezembro de 1490, nova expedição foi enviada ao Congo, a qual, em 29 de Março de 1491, chegou à foz do rio Zaire, por eles chamado rio do Padrão por lá ter sido colocado um padrão indicador de que o rei de Portugal havia sido o descobridor daquelas terras, em nome do seu reino e de Cristo.

A província de Nsoyo (Sonho ou Sono nos relatos portugueses), na qual se encontrava a foz do rio Zaire, era governada por um irmão da mãe do rei do Congo, o mais respeitado dentre os chefes provinciais.Ao receber os portugueses em M’Pinda, o chefe local mandou que todos viessem receber os enviados do rei de Portugal.

As "mulheres dos fidalgos" locais fartaram-se de saudar os estrangeiros, dizendo que seus maridos haviam de fazer o melhor de si para o serviço do Rei de Portugal, a que eles chamavam Zampem-Apongo, que entre eles quer dizer 'Senhor do Mundo'.

Ao olhos dos congoleses, o rei português passava, pois, a ser assimilado a Zambem-apongo, divindade suprema dos povos banto, senhor que reinava no mundo dos mortos, pois, vale dizer, a festa era também para João da Silva (Caçuta), congolês baptizado e embaixador do rei do Congo morto na viagem de regresso em Cabo Verde.

Senhor do Mundo, porque senhor dos mortos, o Zambem-apongo dos congoleses foi entendido pelos observadores portugueses como sendo o rei de Portugal, D.João II especificamente.

Doravante, e por muito tempo, portugueses e congoleses passariam a traduzir noções alheias para sua própria cultura a partir de analogias que permitiam supor estarem tratando das mesmas coisas quando na verdade sistemas culturais distintos permaneciam fundamentalmente inalterados.

Depois da confraternização, o chefe congolês, provavelmente associando as coisas extraordinárias trazidas pelos lusitanos à sua linguagem cultural, pediu para ser baptizado sem mais demora.Assim foi erigida uma igreja de madeira, devidamente paramentada com os objectos trazidos de Portugal para nela realizar o baptismo do mani Nsoyo.apesar de outros nobres expressarem o desejo de serem baptizados, o mani Nsoyo só permitiu que ele e seu filho mais velho o fossem antes do rei do Congo, primazia que a sua destacada posição permitia, não permitindo aos "fidalgos de sua Casa" que sequer entrassem na igreja.

No dia 3 de Abril, dia de Páscoa, o mani Nsoyo recebeu o nome de baptismo de Manuel, tal qual o irmão da rainha de Portugal, Duque de Beja, e ao seu filho chamou-se de D. António, inaugurando um padrão analógico que regeria os primeiros tempos das relações entre os dois povos.

O baptismo foi reservado aos maiores do reino, numa certa ordem de hierarquias.

Principalmente não podia ser usufruído antes de que o rei o recebesse, facto percebido pelo mani Nsoyo que respondeu negativamente aos nobres que pediram para também serem baptizados, justificando o seu próprio baptismo antes do Mani Congo por ser tio do rei e mais velho que ele.

Após a cerimónia do baptismo, seguiram-se festejos. Os padres acompanharam o mani Nsoyo até sua casa em procissão com cruz erguida, discursaram contra as idolatrias e superstições e Manuel mandou que todos os ídolos e templos fossem destruídos.

Rezas e missas sucederam-se antes que seguisse a expedição para a capital real, dispondo de 200 homens cedidos por Manuel para carregarem os presentes e carga, além dos que levavam os mantimentos e garantiam a segurança.Demorariam 23 dias para chegar à corte, sendo recebidos no caminho pelos chefes locais.Ao aproximar-se de Mbanza Congo, dia 29 de Abril, a expedição foi recebida por um membro da família real que levou presentes para o embaixador.

Assim, o Mani Congo e os chefes que o cercavam foram imediatamente identificados como o rei e sua corte; os nobres congoleses associados aos fidalgos portugueses e os cargos administrativos e honoríficos foram chamados pelos equivalentes europeus.

Conforme as descrições do evento, o Rei ordenou que todos os fidalgos e toda a sua Corte saíssem com arcos, lanças, trombas, tímbales e muitos outros instrumentos que eles usavam, e quando os cristãos chegaram à capital, foram recebidos com grandes estrondos e logo hospedados em umas "casas grandes honradas e novas" providas em tudo do que por eles cumpria.

E chegaram ante El- Rei "que estava em um terreiro de seus paços", acompanhado de grande multidão e posto em um estrado rico ao seu modo, nu da cinta para cima, com uma carapuça de pano de palma lavrada e muito alta, posta na cabeça, ao ombro um rabo de cavalo guarnecido de prata, da cinta para baixo coberto com uns panos de damasco presenteados por El-Rei de Portugal e no braço esquerdo um bracelete de marfim.Enquanto isso as pessoas festejavam, levantando as mãos em direcção ao mar e gritando em louvor a deus e ao rei lusitano, ou pelo menos assim o entenderam aqueles que deixaram o registo do dia.


Foram iniciados os trabalhos de construção de uma igreja, que seria consagrada à Virgem Maria e demoraria um ano para ser levantada. Enquanto isso os clérigos iam falar ao rei sobre as "maravilhosas obras de Deus, para que, com sua agradável conversação, o conduzissem ainda mais à fé de Cristo".Este não mais quis esperar pelas maravilhas do baptismo e pediu para ser baptizado imediatamente, no que foi atendido.

Preparou-se um cómodo, de uma casa escolhida, ergueram-se altares, acenderam - se tochas e velas, prepararam-se bacias cheias d’água, e aí o mani Congo foi baptizado, tomando o nome do rei de Portugal e os outros fidalgos, nomes de fidalgos da "Casa d’El-Rei de Portugal", seguindo na linha analógica predominante desde o começo das relações entre os dois povos.

O embaixador português foi, enfim, fartamente presenteado e deixou no Congo quatro clérigos, os ornamentos da igreja usados nos cultos e "um negro que conhecia as duas línguas e que, igualmente, era experimentado nas letras de uma e da outra língua, negro que começou a ensinar a muitos fidalgos e a seus filhos e a muitos homens honrados e virtuosos.Idealmente a igreja deveria servir de posto avançado no percurso da expansão portuguesa.

O retorno da expedição lusitana seguiu com uma embaixada do mani Congo agradecendo os presentes e favores recebidos, comunicando seu baptismo e intenção de multiplicar os conversos (para o que pedia mais padres), oferecendo-se como súbdito em troca do apoio militar recebido e finalmente expressando sua intenção de enviar um embaixador directamente a Roma, a modo de prestar obediência ao chefe maior da Igreja, mas deixando claro que devia a sua fé à acção do rei de Portugal.E, com efeito, entrevendo boas possibilidades de comércio com o reino do Congo e da expansão do catolicismo - as duas faces inseparáveis da expansão ultramarina lusitana-, Portugal iniciou então uma intensa relação comercial com o reino do Mani Congo capitaneada pela difusão da fé cristã.

Morto D.João I do Congo, e após uma luta sucessória e fratricida na qual não faltaram tentativas, da parte de algumas facções nobres, em remover o cristianismo de que haviam sido excluídos, ascendeu ao trono D. Afonso I, o mais importante rei da história luso-congolesa, chefe político e espiritual da catolização do reino do Congo.

Isto porque, na verdade, seu pai, D.João I, não obstante convertido, logo abandonaria o cristianismo, pressionado por sectores da nobreza que não aceitavam a nova religião.Para eles, ela não se mostrou eficaz contra os infortúnios que então assolavam o reino.

Além disso, o rei e os nobres resistiam a aceitar a monogamia imposta pelos padres, um dos temas mais polémicos na aceitação da nova religião, uma vez que a extensão da rede de solidariedades tecida pelos casamentos era peça fundamental nas relações de poder tradicionais.

Com a morte de João I e a deflagração da luta sucessória, subiu ao trono um outro filho seu que não seguia os preceitos do cristianismo, apoiado pelos nobres defensores das tradições congolesas.

Mas Afonso conquistou o trono depois de lutas com seu irmão e reinou por trinta e sete anos, de 1506 a 1543, sendo as bases do cristianismo no Congo estabelecidas no seu reinado. Era profundamente dedicado ao catolicismo, impressionando os missionários com o seu saber e com a sua dedicação aos estudos.

Seu filho Henrique chegou a ser consagrado bispo (1518- 1531), o que não foi visto com bons olhos pelo clero e pela coroa portuguesa, pois dessa forma diminuía o controle exercido pelo Estado por meio do monopólio da religião.

Mas não foi apenas o cristianismo que floresceu sob o reinado de Afonso I.Antes de tudo, D. Afonso promoveu um autêntico "aportuguesamento" das instituições políticas do reino, em consonância com D. Manuel, rei de Portugal, que a isto o estimulou.

Assim, a justiça do Estado passou a guiar-se pelas normas portuguesas, a partir da embaixada de Simão da Silva, portador do Regimento de 1512, e os antigos chefes de linhagem das províncias passaram a intitular-se de condes, marqueses, duques.

Trata-se de matéria riquíssima que não tenho condições de desenvolver aqui, mas vale o registo de que, sob a inspiração política e institucional portuguesa, o Estado congolês foi perdendo as características tradicionais de confederação ou chefatura pluritribal para assumir, ainda que no plano das instituições e da etiqueta política, aspectos da monarquia ocidental, centralizando-se mais nitidamente - traço que sobreviveria ao reinado de Afonso I, perdurando até o século XVIII, não obstante as dilacerantes crises políticas que o reino atravessou no século XVII.

Por outro lado, Afonso I recebeu grande ajuda dos portugueses para incrementar o comércio de cobre extraído em regiões ao norte do Congo que, trazido para a capital, se tornou um meio valioso com o qual o rei podia adquirir mercadorias europeias.

Essas importações e o incremento no comércio, ao aumentar a riqueza do rei, permitiram assegurar a lealdade de nobres importantes, construindo a base de um longo e memorável reinado.Também o comércio de escravos com os portugueses, em fase inicial de implantação, tornou-se monopólio real com redes de comércio que chegavam a São Tomé, o centro de todo tráfico da África ocidental, e até mesmo ao Benin.

Quando o comércio de pessoas fugiu do controle do rei, com mercadores desrespeitando as rotas estabelecidas e o monopólio real, Afonso I escreveu ao rei português reclamando que até mesmo nobres congoleses estavam sendo capturados em guerras interprovinciais para serem vendidos como escravos.O comércio de escravos era antigo naquela região, mas as regras tradicionais estavam a ser violadas.

Não apenas prisioneiros de guerra ou pessoas endividadas estavam a ser negociadas, mas as rotas tradicionais, controladas pelos chefes locais, estavam a ser ignoradas em prol de novos caminhos que burlavam o controle real.

Tudo isso ameaçava o poder real com a evasão de tributos que lhe seriam devidos pelos privilégios tradicionais e o enriquecimento de chefes e comerciantes abalava as bases de seu poder.Somando-se a isso, a região do N’dongo (futura Angola), começava a atrair o interesse dos comerciantes portugueses que buscavam justamente fugir aos monopólios existentes no Congo, concorrendo com o tráfico de escravos controlado pelo rei congolês e pelos comerciantes autorizados pelo rei lusitano.

De todo modo, quando os portugueses chegaram à foz do Zaire, o Congo, assim como outros reinos da região, estava em processo de franca expansão, como os registos de guerras frequentes atestam.A escravização das populações conquistadas permitia aos reis ampliar a sua riqueza pessoal assim como fortalecer exércitos e o corpo administrativo composto por dependentes directos, além de aumentar o volume de tributos recebidos dos territórios ocupados.

Assim, a expansão permitia o acúmulo de riqueza e um reforço da centralização política.Quando os portugueses chegaram àquela parte da África, portanto, não só encontraram uma grande população cativa, como as condições necessárias para sustentar um amplo mercado de escravos, no qual havia espaço para os estrangeiros recém-chegados.

No caso congolês, o próprio processo de centralização e fortalecimento das cidades frente às aldeias estava baseado na crescente existência de escravos, concentrados principalmente em Mbanza Kongo, cujo trabalho era apropriado pelos membros das linhagens nobres que, assim, incrementavam sua riqueza, seu poder, seus sinais de status.Não só no Congo, mas em vários estados da África centro - ocidental os escravos eram resultado das guerras de expansão, sendo fundamentais na centralização e reforço das lealdades.

Afonso I reinou nesse período, e apesar dos problemas que seu reinado enfrentou, expandiu as fronteiras do reino, fortaleceu a centralização do poder real, desenvolveu a capital, disseminou o cristianismo e a educação formal, valorizando sobremodo a leitura e a escrita. Não seria exagero ver em seu reinado, sobretudo do ponto de vista religioso e político-institucional, o processo que Serge Gruzinski chamou de ocidentalização, estudando o México na mesma época.

Lembrado até hoje como o mais poderoso rei da história do Congo, Afonso I, esse defensor implacável da fé cristã, assemelha-se em muitos aspectos ao ideal de rei missionário e cruzado, rei que combate os infiéis com a ajuda de forças divinas, amplia e consolida as fronteiras da cristandade.As bases do catolicismo congolês fincaram raízes profundas no seu reinado, que se prolongou até quase meados do século XVI.

Catolicismo que, não obstante, foi incapaz de remover por completo as tradições religiosas locais, do que resultou um complexo religioso original, híbrido, a um só tempo católico e banto.

As relações luso-congolesas estabelecidas no reinado de Afonso I entraram em lento mas progressivo colapso a partir da segunda metade do século XVI e, sobretudo no século XVII, após a morte de Álvaro II, em 1614.Na verdade, não obstante a retórica da Coroa portuguesa de que o rei do Congo não era vassalo de Portugal, senão um "irmão em armas de seus reis", como dele disse D.João IV, o facto é que Portugal sempre viu no Congo uma possibilidade de expandir a fé católica e garantir o tráfico de escravos em partes de África.

Portugal atendeu muito pouco às reivindicações dos monarcas congoleses, como se percebe na correspondência entre as duas Coroas no período, e acabaria por deslocar os seus interesses no tráfico para Angola.A deterioração das relações luso-congolesas cresceu no século XVII, a ponto de, no reinado de Garcia Afonso II (1641-1663), o Congo se ter aproximado dos holandeses, que haviam tomado Luanda anos antes.

Garcia II desenvolveu, na verdade, uma política ambígua, cortejando e deixando-se cortejar pelos batavos, porém, recusando a pressão holandesa para abandonar o catolicismo romano.

Desatendeu, por outro lado, as exigências do padroado da Coroa Portuguesa, admitindo no reino capuchinhos italianos e espanhóis, embora tenha ratificado um tratado que garantia importantes concessões territoriais a Portugal na vizinha Angola.

Apesar das cautelas de parte a parte, Congo e Portugal seguiriam doravante caminhos distintos, quando não opostos, até ao frontal embate de 1665.Referimo-nos à batalha de Mbwila (Ambuíla), quando os congoleses foram derrotados pelos portugueses, seguindo-se um período de guerras internas ligadas à sucessão real.

Portugueses e congoleses enfrentaram-se em Mbwila em relativa igualdade numérica, mas, enquanto o exército congolês era formado principalmente por camponeses recrutados, o exército português era composto na sua maioria por guerreiros imbangalas (jagas), povo criado na tradição guerreira.

A guerra ocorreu em torno a uma disputa sucessória em Mbwila, importante região do N'dembo, estando os portugueses interessados em controlar o território que seria passagem para as cobiçadas minas de ouro e prata.Na batalha morreram milhares de congoleses, muitíssimos nobres e o rei António I teve sua cabeça cortada e enterrada em Luanda, enquanto a sua coroa e o seu ceptro, emblemas reais, foram remetidos a Lisboa à guisa de troféus.

Junto com o rei, haviam morrido os principais candidatos ao trono, abrindo-se então um complicado processo sucessório que fortaleceu a posição de Nsoyo.Depois da batalha, São Salvador (Mbanza Congo) foi à ruína com as linhagens nobres fugindo das guerras sucessórias para outras províncias.

De todo modo, a maioria dos autores que se detiveram na história congolesa deste período atribuem a desestruturação do reino a causas externas, localizando no aumento do número de escravos traficados, na intensificação das guerras regionais e na alteração do equilíbrio entre os poderes tradicionais os principais motivos das guerras civis que assolaram o Congo até o início do século XVIII.Com o enriquecimento das linhagens governantes do Nsoyo, não só devido ao grande aumento do comércio que passava por M’Pinda, seu porto, mas principalmente com o aumento da riqueza produzida na cidade devido à concentração de escravos e tributos, surgiu uma alternativa de aliança entre as linhagens em disputa, que não dependiam mais apenas da linhagem então reinante.

O poder centralizado do Congo foi destruído pelas rivalidades entre Nsoyo e São Salvador - agudizadas no "período holandês" - , pela derrota em Mbwila e pelas lutas entre as linhagens nobres.

Depois de Mbwila, toda a nobreza se transferiu para as províncias, que se tornaram mais autónomas e passaram a escolher os seus administradores, independentemente do poder central, pelo qual, no entanto, a disputa era constante.Cada chefe local cercou-se de um grupo de auxiliares, reproduzindo nas províncias a estrutura da corte real e escolhendo seu sucessor.

As rivalidades entre as linhagens provocaram guerras permanentes que empobreceram a população em consequência de recrutamentos forçados, destruição de plantações e escravização dos derrotados, vendidos para os comerciantes de Luanda ou para a Loango dos mercadores.Nsoyo, a mais forte província, cuja capital teve a população dobrada entre 1645 e 1700, quando contava com cerca de 30.000 habitantes, desenvolveu-se muito nesse período, beneficiando-se dos escravos trazidos de São Salvador, em ruínas.A intenção de Nsoyo era manter um rei fantoche no poder, servindo aos interesses da nobreza local, e, para tal, apoiava algum pretendente ao trono o suficiente para lá o colocar, mas não o suficiente para que se fortalecesse no cargo.

No entanto, a crise política, qualificada por alguns como verdadeira "anarquia", tomou conta do reino congolês.

Entre 1665 e 1694, houve nada menos do que 14 pretendentes à coroa do reino, alguns com sucesso, outros nem tanto, e muitos deles assassinados.No final de Seiscentos, o Congo possuía três reis, sendo D. Pedro IV o mais poderoso deles, aparentemente, e talvez o único capaz de levar adiante um projecto de reunificação congolês.

Foi neste contexto de crise e fragmentação que irrompeu o antonianismo, movimento que, seja em termos religiosos ou políticos, nos fornece importantes pistas para compreender as complexas relações entre catolicismo e monarquia na África banto.

A fundadora da "seita" foi a jovem aristocrata Kimpa Vita, nascida de família nobre congolesa na década de 1680, baptizada Dona Beatriz, mulher que fora sacerdotisa do culto de Marinda (nganga marinda), embora educada no catolicismo.Kimpa Vita contava entre 18 e 20 anos quando, cerca de 1702-1703, acometida de forte doença, disse ter falecido e depois ressuscitado como Santo António.

E seria como Santo António que Kimpa Vita pregaria às multidões do reino - daí o movimento ter ficado conhecido como antonianismo -, seguindo o rasto de outras várias profetisas que lhe precederam na mesma tarefa, como a Matuta, em meio à crise que assolava o reino.

A pregação de Kimpa Vita possuía forte conotação política. Preconizava o retorno da capital a São Salvador e a reunificação do reino, chegando mesmo a envolver-se nas lutas facciosas da época. Melhor exemplo disso ocorreu quando de sua chegada a São Salvador, onde encontrou Pedro Constantino da Silva, nobre militar enviado por D. Pedro IV, a quem proclamou "Rei do Congo" em troca da sua adesão ao antonianismo.

Assegurou-se ainda, por meio de vários acordos, da aliança de famílias nobres adversárias de D. Pedro, a exemplo dos grupos de Kimpanzu, especialmente da família Nóbrega, enraizada no sul da província de Nsoyo.As alianças estabelecidas por Kimpa Vita, metamorfoseada em Santo António, não eram porém resultado de mero cálculo político. Ancoravam-se numa cosmologia complexa e peculiar que, se formos resumir em poucas palavras, vale seguir o que disse Boxer sobre o movimento: "uma modalidade remodelada e completamente africanizada do cristianismo" .

Com efeito, o movimento confirma, antes de tudo, o êxito do processo de canonização do Congo inaugurado no século XV e cristalizado sob o reinado de Afonso I na primeira metade do século XVI.O Deus dos antonianos era, sem dúvida, o Deus cristão, o Deus dos missionários, com o qual Kimpa Vita dizia jantar todas as sextas-feiras, após "morrer", para "ressuscitar" no dia seguinte.Santo António, por outro lado, santo muito valorizado na missionação realizada no Congo, era a pessoa assumida pela profetisa, por ela chamado de "segundo Deus".

Africanizando o catolicismo, "a Santo António congolesa" dizia que Cristo nascera em São Salvador, a verdadeira Belém, e recebera o baptismo em Nsundi, a verdadeira.Afirmava ainda que a Virgem Santíssima era negra, filha de uma escrava ou criada do Marquês de Nzimba Npanghi e que São Francisco pertencia ao clã do Marquês de Vunda.

O catolicismo do movimento antoniano era, portanto, muitíssimo original, implicando uma leitura banto ou bakongo da mensagem cristã.

Modelava-se, em vários aspectos, na acção pedagógica dos missionários, mas condenava o clero oficial, sobretudo os missionários estrangeiros, aos quais acusava de "haverem monopolizado a revelação e o segredo das riquezas para exclusiva vantagem dos brancos" em prejuízo dos "santos negros".Rejeitou, igualmente, boa parte dos sacramentos católicos: o baptismo, a confissão, o matrimónio, ao menos no tocante à liturgia e aos significados oficiais, abrindo caminho, no caso do matrimónio, para a restauração legitimada da poligamia.

Adaptou, ainda, certas orações católicas, a exemplo da Ave -Maria e sobretudo do Salve Rainha. Proibiu, ainda, a veneração da cruz, esse grande nkisi católico-bakongo, em razão de ter ela sido o instrumento da morte de Cristo.Kimpa Vita prometia a todos os que aderissem à sua pregação uma próxima "idade de ouro", e não apenas no sentido figurado, pois dizia que as raízes das árvores derrubadas converter-se-iam em ouro e prata e que das ruínas das cidades surgiriam minas de pedras preciosas.

Prometia, ainda, tornar fecundas as mulheres estéreis e outras mil bem-aventuranças, granjeando imenso apoio popular. Não se escusava, porém, de ameaçar os reticentes com as piores penas, incluindo a de transformá-los em animais.Organizou para tanto uma verdadeira igreja antoniana, um clero, onde pontificavam outros santos, como São João, e uma plêiade de sacerdotes denominada de "os antoninhos" que saíam a pregar a excelência da nova igreja e o poder taumatúrgico e apostólico "da Santo António" que a chefiava.

Kimpa Vita despertou obviamente a ira dos missionários capuchinhos e das facções nobres adversárias do antonianismo e postulantes do poder real.O próprio D. Pedro IV, de início cauteloso e hesitante em reprimir o movimento, terminou por ceder às pressões dos capuchinhos italianos, ordenando a prisão da profetisa e de São João, "o anjo da guarda" da profetisa que os frades diziam ser seu amante.

O estopim ou pretexto que levou à prisão de Kimpa Vita teria sido a acusação de que tinha um filho recém-nascido, cujo choro teria sido ouvido enquanto ela o amamentava em segredo, do que resultara o seu desmascaramento como "falso Santo António".Kimpa Vita foi presa e condenada a morrer na fogueira como herege do catolicismo. A sentença foi executada em 1708 e na fogueira arderam Kimpa Vita e o seu "anjo da guarda" – o Santo António e o São João do catolicismo congolês.



O Reino do Congo era um verdadeiro Estado feudal, englobando a actual República do Congo - Brazzavile (ex-Congo francês), o Baixo-Congo até Kinshasa, capital da actual República Democrática do Congo (ex-Congo belga, ex-República do Zaire...), e uma parte do norte de Angola.Uma lenda a desfazer é a de que esse reino banto teria sido sempre hostil aos europeus, o que contraria a verdade histórica.

Os reis negros, longe de se entregarem a um nacionalismo xenófobo, desde os primeiros contactos, na sua maioria, multiplicaram suas atenções quanto ao relacionamento com os "brancos".Pediram missionários, mestres de ofícios, mercadores, enviaram embaixadas a Portugal e ao Vaticano, mau grado as dificuldades de comunicações marítimas, solicitando intercâmbio.

O Rio Zaire ou Congo - "Rio Poderoso" - ou simplesmente "Rio" (Zaire) impressionaria profundamente os seus descobridores, comandados por Diogo Cão.Aquela torrente de água doce a penetrar, por alguns quilómetros, pelo mar dentro, era suficiente testemunho de sua extraordinária pujança e importância.

Os Portugueses não conheciam coisa que se assemelhasse a isso - o seu Tejo pátrio ficava muito àquem da majestade africana do "Zaire".Rumores corriam, conforme uma velha tradição europeia, de que devia existir um meio de comunicação com o lendário Reino do Preste-João (afinal, este viria a revelar-se na Etiópia com seu cristianismo copta, mais tarde). Seria por ali o caminho?1485 - O audacioso navegador português Diogo Cão encontrou no Reino do Congo, um país política e administrativamente bem estruturado, dividido em províncias, confiadas a sobas vassalos, próspero e totalmente independente.

Diogo implantou o Padrão de S.Jorge (Abril de 1483) situando-o na margem esquerda do citado grande curso fluvial. Por contactos estabelecidos com os povos ribeirinhos, souberam os Portugueses da existência, no interior, dum poderoso rei.

Aquele capitão Português enviou ao potentado Negro mensageiros e presentes. Mas não se deteve no local, prosseguiu viagem para sul.Só decorridas 15 luas arribou novamente ao Congo, trazendo consigo 4 Negros que havia pegado à chegada, os quais enviou ao rei, vestidos já à portuguesa, bem alimentados, falando a língua portuguesa.Foram esses os primeiros embaixadores da civilização lusitana.Ficou o monarca encantado, ao ouvir da boca dos seus súbditos já meio ocidentalizados notícias precisas a respeito dos estrangeiros. E assim se encetaram amistosas relações entre portugueses e congoleses....

Foi em 1575, quase um século depois de Diogo Cão ter assinalado com os seus padrões toda a costa de Angola (1482 - 1486), do Zaire ao Cabo Negro, que Paulo Dias de Novais, Primeiro Governador e Capitão-Mor das conquistas do Reino de Angola desembarcou na Ilha de Luanda com cerca de 700 homens, 350 dos quais homens de armas, padres, mercadores e servidores, estabelecendo o primeiro núcleo de portugueses. Aqui entraram, além de alguns portugueses, muita gente que nela vivia, toda, no dizer dos cronistas, «muito bem disposta ao cristianismo».

Um ano depois, reconhecendo não ser «o lugar acomodado para a capital da conquistas», funda em terra firme a vila de S. Paulo de Loanda, e logo a igreja de S. Sebastião, no morro de S. Miguel, (Museu das Forças Armadas).

À sua volta foi crescendo a Vila e irradiando depois, tomou foros de cidade, em 1605, no governo de Manuel Cerveira Pereira.Entretanto, estenderam-se as conquistas ao interior de Luanda e fundaram-se os presídios de Massangano (1583), Muxima (1599) e Cambambe (1604), de que restos ainda hoje se encontram ao longo do rio Kwanza.

A Câmara de Luanda deve ter início ao estabelecer-se em terra firme a Vila. Não há documentos precisos da sua fundação. Mas sabe-se que Paulo Dias de Novais logo «criou os cargos e ofícios necessários ao governo da nova Colónia». Nalgumas descrições assinala-se a sua presença em actos solenes, desde 1595, e em 1611 é já a Câmara que, com o Bispo e Nobreza, elege o novo governador Bento Banha Cardoso, por morte repentina do antecessor.Por várias vezes teve o Senado da Câmara intervenção directa na governação da colónia, de 1667 a 1669, e de 1702 a 1704, foi-lhe o governo confiado e confirmado por cartas régias.No entanto, a colaboração que sempre dispensou aos governadores, quer em auxílios materiais quer morais, fazem salientar, como já foi publicado, a sua «útil e leal acção» na defesa da colónia e a favor da colonização, se atentarmos sobre tudo no contraste do procedimento de outras «câmaras ultramarinas» nessas épocas, e de que as descrições de Lopes de Lima nos dão conta.

As primeiras perturbações causadas pelas investidas holandesas tiveram lugar em 1624.Em 1633 armam-se em Luanda 5 navios de guerra para combater as suas naus que na costa de Benguela ameaçavam o comércio.O sossego não volta até ao aparecimento, na baía, da Grande Armada, do comando do Almirante Pedro Houtebeen, no dia 24 de Agosto de 1641 em que o governo, alarmado, abandonou precipitadamente a cidade a caminho do Bengo, para se acolherer ao presídio e vila de Massangano.Seguem-se sete anos em que os portugueses em Angola, escreveram as mais dolorosas páginas da sua história.Salvador Correia de Sá e Benevides, que ao serviço de Portugal vinha no Brasil governando, depois de feitos militantes, em terra e mar, é encarregado pelo rei D. João IV, ao regressar de uma das viagens comerciais que, por sua determinação, comboiava e protegia, da restauração de Angola, caída em poder dos holandeses.Acompanhado de 1.200 homens de armas e de uma frota de 12 navios, faz- se ao mar em 12 de Maio de 1648, fundeando em 12 de Agosto na baia de Quicombo.

A inclemência do mar fez perder a nau Almirante e os 300 homens que continha, levantando-se (Cardonega) «uma tormenta de marés tão fortes, coisa não vista de outros navegantes naquela paragem».Mas, mesmo sem ela e sem esses homens, Salvador Correia de Sá chega à baía de Luanda, ante o pasmo da gente holandesa, que pensa tratar-se apenas de simples guarda avançada de grande esquadra.Apressadamente se refugiam os de terra na Fortaleza de S. Miguel .

Mas o desembarque faz-se na manhã seguinte, 15 de Agosto, e em assalto bem conduzido, rendem-se os holandeses dominados por menos de metade de homens portugueses.Por alvarás régios de 28 de Setembro e 9 de Dezembro de 1662, aos oficiais da Câmara da cidade de Luanda e seus moradores foram concedidos os mesmos privilégios dos cidadãos da cidade do Porto, em consideração aos serviços prestados à Restauração de Angola.

O seu brasão de armas fica para sempre registado nos arquivos da Torre do Tombo, entre os das cidades e vilas portuguesas.Como que um novo período começa; pretende-se apagar da memória o pesadelo do condomínio; a cidade muda o seu nome passando a ser S. Paulo de Assunção de Luanda, por ser aquele o dia da Assunção da Virgem que no seu brasão passa a figurar, (15 de Agosto).Antes da invasão holandesa e segundo a descrição de Dapper e a sua gravura que acompanha a edição francesa da sua Obra (1686), na cidade existiam já as fortalezas de S. Miguel ( 1638 ), no mesmo local em que hoje se encontra, do Penedo, Santa Cruz e algumas outras desaparecidas, várias igrejas (seis), conventos dos Jesuítas, dos Terceiros Franciscanos, Hospital da Misericórdia e casario diverso principalmente na baixa da cidade.Mas a cidade, depois de reconquistada, teve de ser construída de novo ( Cardonega ), restauradas as casas dos habitantes sem tectos, sem portas, as igrejas desbaratadas, mostrando por toda parte a ruína; concederam-se «chãos de sesmaria» aos moradores para novas casas e arimos (Lopes de Lima).

Os primeiros missionários nessas áreas foram os navegadores e mercadores ainda ligados à ideia das Cruzadas. Não raros esses navegadores utilizaram-se do recurso de levar nativos para Portugal para prestarem informações e serem catequizados.De volta às suas terras, esses homens podiam servir como intérpretes, auxiliando os portugueses na sua empresa.

Mas, para J. F. Marques, também, só muito escassamente foi bem-sucedida a evangelização na Guiné, Senegal e Benim, por causa da influência muçulmana.Só a partir das duas últimas décadas do século XV a cristianização da África negra conheceu medidas e resultados consistentes.

Com D. João II e D. Manuel I, o esforço apostólico da Coroa portuguesa passou dos actos isolados à adopção de uma política assentada, em traços gerais, na conversão dos reis gentios e na formação de um clero nativo (Riley, 1998:162).Assim, ao lado das feitorias e dos interesses mercantis, seguiram a construção de igrejas e capelas e a educação na fé católica de crianças e jovens, transformando-os, posteriormente, em missionários em suas terras de origem.

No Senegal, chegou-se a construir o convento de S. Vicente do Cabo, destinado à formação de clero negro.A terceira zona identificada por J. F. Marques abrangia o reino do Congo e a ponta meridional costeira da África. A chegada ao Reino do Congo, depois de meio século de investidas para o reconhecimento da costa ocidental da África e do golfo da Guiné, revelou aos portugueses uma área na qual não havia a influência islâmica.D. Henrique foi uma das principais figuras que Roma admirou na embaixada enviada ao Papa em 1514 pelo Rei D. Manuel I de Portugal, sob a chefia do descobridor Tristão da Cunha.

Quatro anos mais tarde, em 3 de Maio de 1518, foi D. Henrique sagrado Bispo de Útica, apesar da oposição que os Cardeais haviam manifestado. A sagração de D. Henrique representou uma vitória para a política de El-Rei D. Manuel, 'O Venturoso', porque a Europa não compreendia que um negro pudesse ser elevado à plenitude do sacerdócio, ao episcopado. Com hipocrisia ou sem ela, facto consumado é o que importa, foi Portugal o primeiro País a atingir a plena fraternidade entre as raças humanas.

Infelizmente D. Henrique faleceu antes de ser elevado a Bispo do Congo com a criação da Diocese do mesmo nome.Durante esse período, erigiu-se um certo número de sedes episcopais, e uma das primícias deste empenho missionário, foi a sagração de D. Henrique — filho de D. Afonso I, rei do Congo — como bispo titular de Utica, feita em Roma por Leão X, no ano de 1518.

D. Henrique tornou-se assim o primeiro bispo autóctone da África negra.I

Imagens: Wikipedia, NASA, CIA

Texto elaborado por:Cátia Isabel Guerreiro

Nota:3,5

 

O Chá



O Chá é bebido há séculos e a sua origem remonta à China.
Conta a lenda que a árvore do chá foi descoberta, no ano 2737 a.C., por acaso, quando o imperador chinês Shen Nung, mais conhecido como o "Curandeiro Divino" ou o"Pai do Chá", dava um passeio pelas suas propriedades.
O Imperador pediu a determinada altura que os seus servidores lhe fervessem um pouco de água enquanto descansava à sombra de uma árvore. Foi precisamente dessa árvore que uma folha ter-se-á solto e caído dentro da taça de água fervida. Sem reparar, o Imperador bebeu, sendo dessa forma que nasceu a primeira chávena de chá.
Terá sido este imperador que criou a medicina natural ou ervanária, testando ele próprio uma enorme variedade de bebidas medicinais à base do chá.
Basicamente, o chá origina-se nas folhas verdes de árvores denominadas Camellia sinensis nativas da China e muito comum em zonas de climas tropicais e semi-tropicais.Para se chegar à infusão estabelecida nos dias actuais, houve modificações desde a confecção do produto, quanto à torrefacção e prensagem, até à distinção entre os chás verdes e pretos que conhecemos bem.
O chá divide-se em três variedades, segundo o grau de fermentação das folhas: verde, negro e oolong.

Inicialmente o Japão foi o responsável pela divulgação da utilização do chá, fora da China. A importação do chá para a Europa foi estabelecida pelos holandeses e portugueses no sec. XVI. Posteriormente o chá entrou na Rússia, Alemanha, França e em toda a Europa.Na América do Norte o chá chegou através da emigração de europeus que transpuseram o hábito de bebê-lo para o novo Continente.
Em território português, em 1874, chegaram aos Açores (Ilha de S. Miguel) as primeiras sementes de C. sinensis- a planta do chá- e, alguns anos mais tarde, foram chamados dois especialistas chineses que se dedicaram a ensinar aos fabricantes locais as técnicas de preparação das folhas. Chegaram a funcionar na Ilha de S. Miguel mais de uma dezena de plantações com fábrica própria. Entre elas encontrava-se a Gorreana que é actualmente, a única plantação com fábrica de chá de toda a Europa. Em Portugal também se experimentou a plantação de C. sinenses nomeadamente no Minho e no Alentejo.
Hoje restam apenas algumas destas plantas, que existem com carácter ornamental.Existem actualmente cerca de três mil variedades de preparações para a infusão, embora os verdadeiros chás tenham sempre um ponto de partida: as folhas da Camellia sinensis, que é o seu nome científico.Produzidas em mais de 25 países, sobretudo na China, Índia, Indonésia, Quénia, Malawi e SriLanka.Os Açores são o único ponto da Europa onde o chá é cultivado .
O chá é um alimento de origem vegetal. Algumas investigações levam a crer que a ingestão de chá, incluída numa dieta saudável, pode diminuir o risco de desenvolvimento de doenças crónicas como o cancro, as doenças cardíacas e o ataque cardíaco.
Catarina de Bragança (Vila Viçosa, 26 de Novembro 1638 - Lisboa, 30 deNovembro 1705) foi uma princesa de Portugal e rainha consorte de Inglaterra e da Escócia através do seu casamento com o rei Carlos II da casa de Stuart.Catarina era filha do rei D. João IV de Portugal e da sua mulher D. Luísa de Gusmão; os seus irmãos foram os monarcas Afonso VI e Pedro II de Portugal. Catarina não foi uma rainha popular em Inglaterra por ser de confissão católica, o que a impediu, inclusivamente, de ser coroada. O seu dote trouxe a cidade de Bombaim e de Tânger para o domínio britânico.Todavia, a sua popularidade nos Estados Unidos da América era bastante elevada e era acarinhada pela população local, ao ponto de que, em sua homenagem, foi dado o nome de Queens a um dos cinco bairros da cidade de Nova York.O seu casamento foi negociado em Londres por D. Francisco de Melo, que depois foi ajustado com um tratado anglo-luso em 1661. A princesa embarcou no ano seguinte, celebrando-se o casamento em Portsmouth e seguindo depois para Londres. Perante o ambiente religiosamente hostil, a rainha manteve a sua fé e conseguiu que o seu marido abjurasse do anglicanismo numa cerimónia particular.
Catarina nunca deu à luz um herdeiro, apesar de ter estado grávida por várias vezes, a última das quais em 1669. A sua posição era dificil, já que Carlos continuava a ter filhos de suas amantes, mas insistiu que ela fosse tratada com respeito e recusou divorciar-se dela.Após a morte de Carlos, Catarina permaneceu em Inglaterra durante o reinado de James II e regressou a Portugal durante o reinado conjunto de William III e Mary II, já depois da Revolução Gloriosa, instalando-se no Palácio da Bemposta, que mandara construir.
Foi ela a responsável pela introdução do costume de beber chá em Inglaterra.Foi regente do reino de Portugal por duas vezes em 1704, enquanto D. Pedro II esteve ocupado com a Guerra da Sucessão da Espanha e, no ano seguinte, por algumas semanas durante a doença do irmão.
Morreu em Lisboa em 1705.
Texto elaborado por : Cátia Isabel Guerreiro
Nota:4,5

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  • From Beja, Ourique, Portugal
  • Sou amiga das pessoas de quem gosto, divertida, um pouco teimosa,frontal,talvez um pouco timida, espontanea, odeio quando dizem as coisas pelas costas e não são capazes de admitir aquilo que pensam, não gosto quando me mentem e penso que o resto quem me conhece bem é que poderá dizer....
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